A Res Publica


“Na sociedade moderna raramente temos ocasião de observar indivíduos cujo comportamento seja inspirado por um ideal moral. Contudo, tais indivíduos existem; é impossível deixar de notá-los quando os encontramos. A beleza moral deixa uma recordação inesquecível àquele que a contemplou, por uma única vez que fosse. Nos impressiona mais do que o belo na natureza ou na ciência; dá a quem a possui um poder estranho e inexplicável; aumenta a força da inteligência e promove a paz entre os homens. Muito mais do que a ciência, a arte ou a religião, é o fundamento da civilização” ... Alexis Carrel

Quem é o homem público, o parlamentar, o governante? Qual deve ser a conduta do homem ou mulher investido(a) do cargo de servidor(a) do Estado? 

A fim de exemplificar e dar melhor entendimento ao exposto a seguir, tomemos como referência o presidente da República.
  • Quem é essa pessoa?
  • O que representa?
  • Quais são os seus deveres?
  • Tem vontade própria ou deve agir de acordo com o cargo que ocupa?
  • Deve, ou não, responder pelos atos dos seus subordinados?

Vejamos: Ao receber a faixa presidencial, o homem que investe o cargo de chefe do poder executivo da nação é imediatamente incorporado por um “espírito” (vou chamar dessa forma para que todos possam entender). O mesmo acontece com senadores, juízes do Supremo, vereadores, prefeitos, deputados federais e estaduais, governadores, etc.....ou, pelo menos, é o que deveria acontecer.

O que significa isso ?

Significa que quando um homem, ou mulher, assume um cargo pelo voto, sua vontade, seu desejo, seus interesses pessoais deixam de existir, fazendo com que sua função se assemelhe àquela do “sacerdócio“. Assim como os sacerdortes devem se ater ao dogma, às regras da religião que abraçaram, o mesmo devem fazer os governantes, esquecendo que durante seu tempo de “figura pública” - seja nos seus momentos de lazer pessoal ou ao se fazerem representar publicamente - quem age, quem é visto, quem fala é esse “espírito”, sendo irrelevante a vontade de quem o incorpora. O indivíduo perde temporariamente sua identidade como cidadão e se transforma em uma instituição. O presidente da república, por exemplo, É uma instituição. Inexistem a vontade e o desejo pessoal

Prosseguindo, o “espírito” presidencial está ali, e mesmo não existindo a figura do presidente, por um minuto que seja, o “espírito” não deixa de existir. É UMA INSTITUIÇÃO.

Imagine da seguinte forma: Suponha que por uns dias, por algum motivo, o país não tenha um presidente. Suponha também, que enquanto não se elege alguém para ocupar o cargo, você entre no palácio presidencial e se veja diante de um manequin, sem qualquer expressão facial, endossando um paletó, camisa branca, uma bela e sóbria gravata e a faixa presidencial. Tente imaginar um quadro de Magritte.

O que você vê ali?

Se olhar com atenção, ao seu redor, e absorver toda atmosfera do lugar, deixando que sua mente viaje pela história dos homens públicos (os sérios) que por ali passaram; pela cultura do seu país, pelas raízes que formaram a gigantesca árvore que representa o conjunto de valores da nação, irá entender que naquele manequim reside um espírito, e que nesse espírito se inserem todos os valores da Pátria. O que para muitos pode parecer apenas um manequin com paletó, camisa, gravata e uma faixa, na verdade é o “Espírito da República” ou “da Coisa Pública”,  A INSTITUIÇÃO, como preferir.

Ele (o espírito) já conhece todas as regras, todos os valores, toda moral, ética, civismo e toda Constituição. Participou de reuniões com valorosos homens do passado; cresceu, amadureceu e incorporou os verdadeiros valores patrióticos com que deve administrar a nação. Aprendeu, desde cedo, a separar o joio do trigo, expurgando o mau e o mal, em privilégio do bom e do bem, e adotando o bem comum como conduta a dar felicidade aos que se encontrem sob o manto da sua proteção. Sabe a medida certa das coisas e conhece todas as regras que devem ser observadas para o bom cumprimento do dever; um conjunto de regras que não pode e não deve jamais ser desobedecido ou questionado.

Esse é o “espírito governante” 

Eleger alguém para um cargo público, apenas pelo que essa pessoa diz, pelas suas propostas, pelos seus acordos, pelas suas associações, pela sua aparência ou pela simpatia que possa inspirar, é estupidez. São elementos importantes, sem dúvida, mas o primordial é o compromisso do cidadão em governar de acordo com as vontades desse espírito. Infelizmente, não é essa a intenção que vejo na maioria dos políticos. Existem valores, é óbvio; mas a maioria parece padecer de um mal; aquele que diz ao sujeito que ele detém o poder para legislar de acordo com a sua vontade (muitas vezes em causa própria) - entre outras coisas piores tais como o enriquecimento ilícito e o uso da violência, “privilégios” de terras sul-americanas e centro-africanas.

Agora imagine uma cena um pouco surrealista, onde o Congresso esteja completamente vazio e cheio desses manequins e suas faixas, um ao lado do outro à espera do resultado das eleições. Cada um deles representa parte desse grande espírito que delegou a todos os outros manequins, as funções de auxiliar na administração pública. São os senadores, os deputados, etc.

Como são “espíritos”, precisam de um corpo para exercerem suas funções em nosso meio e assim, se incorporam nesse ou naquele cidadão, escolhido por nós...escolhido por VOCÊ. Quando ajudamos a eleger alguém, na verdade estamos dando a essa pessoa o direito de entrar no Congresso e, num cerimonial adequado, assumir aquele espírito QUE JÁ EXISTE (não deve ser mudado, substituído ou reinventado), com todas as regras, deveres e obrigações que já conhecem, e com as quais estão acostumados.

O problema (equívoco):

A maioria das pessoas (eleitores), e quase a totalidade dos políticos, não entendem isso! Confundem sua imagem, seu desejo, sua vaidade com o espírito que incorporam, fazendo uma grande “salada política”. É o que acontece atualmente no Brasil, com a maioria dos políticos. Deveriam entender que não podem ser, ao mesmo tempo, homem público e cidadão comum. Esteja acordado, dormindo, almoçando, jantando, passeando com os filhos num parque, com a família nas férias, tomando café da manhã ou um descontraído sorvete pelas calçadas da cidade de um outro país, quem está ali não é o “fulano de tal” e sim o chefe de uma nação, um líder, um congressista ou seu representante.

Não pode abrir a boca para dizer o que lhe vem em mente, principalmente se o que pretende dizer contraria o que se insere no "espírito da coisa pública" que, ESTE SIM, tem o direito de governar. Agir dessa forma (de "testa" própria) é demonstração de estupidez e de incapacidade em exercer tão relevante função. E nem adianta argumentar que o poder lhe foi dado pelo povo, pois isso só significa que: Quem o elegeu ignora o processo eleitoral e a que se presta a política, é omisso, ou aprova sua execrável conduta.

O indivíduo enganou a todos e agora se recusa a deixar o cargo, o que é um absurdo, já que os mecanismos que o colocaram no poder deveriam ser os mesmos para tirá-lo. Os EUA parecem ter uma consciência política mais adequada com relação a essa questão. Basta o indício (não são necessárias nem mesmo provas conclusivas) de um pequeno escândalo sexual, por exemplo, para que um governante caia em desgraça política. O senhor Renan Calheiros e muitos outros - a esmagadora maioris dos nossos parlamentares - estivessem em um país como os EUA, já teriam sido excluídos do cenário político há muito tempo.

Em outras palavras, quando o presidente, por exemplo, endossa a faixa presidencial, deve entender que naquele instante é como se fosse submetido a uma lavagem cerebral. É como se perdesse a própria identidade, a sua personalidade. Naquele momento, seja lá quem for, deixa de existir o cidadão, que passa a servir às ordens desses “espíritos governadores” da nação. Suas vontades terrenas, seu hedonismo, seus vícios, sua vaidade, suas taras e seus interesses pessoais não interessam mais…tudo isso é irrelevante...é como se não existissem.

Não interessam a fome de poder, a ganância e seus apetites; não interessam o seu patrimônio pessoal ou a sua vontade. Não interessa quanto irão receber como paga mensal por sua função. Interessa apenas que as regras inseridas, implícitas, incorporadas naquele espírito, sejam cumpridas à risca.

Não é admissível que cada um que incorpore esse espírito, acredite que possa pensar e agir segundo a sua vontade, com seus desejos, com suas aspirações e com seus interesses pessoais. Nem mesmo na antiga e corrupta Roma era assim. Não é admissível que o indivíduo diga “EU NÃO SABIA DE NADA”, enquanto o espírito que incorpora grite no seu ouvido “EU VI … EU VI … EU VI !!! …DIGA A VERDADE !!!

É inadmissível que um governante, principalmente em posição de chefia, use o argumento da “privacidade”, tentando justificar seu comportamento inadequado com a sua função de homem público. Para ser mais claro:
  1. Não pode ter amantes.
  2. Não pode ter vícios.
  3. Não pode participar de movimento em favor do consumo de drogas.
  4. Não pode andar armado.
  5. Não pode se apresentar bêbedo em público.
  6. Não pode dizer "EU NÃO SABIA", quando alguém da sua administração comete um deslize ou um crime.

Quem se investe de tal cargo, antes de aparecer bêbedo em público, antes de frequentar meninas e prostitutas, antes de ter amantes, antes de fumar maconha, antes de pensar em meter a mão no erário, deveria consultar a “voz do espírito” que diz: “NÃO POSSO FAZER ISSO!…É ERRADO!”

O cidadão, investido de tal cargo, por sua vez, deveria entender: “Não sou eu quem está aqui! É o governador...é o presidente...é o deputado, o  senador...etc, etc, etc!”

O problema é que esse espírito não consegue exercer sua vontade sozinho, ficando muitas vezes a mercê de um ignorante, de um néscio, de um deficiente mental, de um pateta, de um estúpido, de um retardado, de um ladrão, de alguém com forte desvio de caráter, que o incorpora e que não entende a enorme barreira que separa o cidadão comum do homem público, obstruindo o relevante trabalho da "COISA PÚBLICA".

Espero que a explicação tenha sido exauriente. Caso contrário, sugiro assistir ao vídeo a seguir: