O Sucateamento da Pública Instrução


Cresceu desmesuradamente no Brasil a tradição política de não investir na instrução pública, justamente o fator chave para o desenvolvimento do capital humano.

Estranha e curiosamente, em outras épocas, quando menos se falava em "educação", tanto melhor. Não era um primor; mas ninguém que viveu os mais recentes processos de mudança no sistema educacional no Brasil, teria motivos para afirmar que não era bem melhor do que o desastre dos tempos atuais. Decerto não era uma maravilha; mas era boa e, acima de tudo, funcionava, tendo sido a responsável pela formação intelectual de tantos cidadãos ilustres.

A observação completa das coisas, o hábito de desenvolver o raciocínio exato, o estudo da lógica, a utilização da linguagem matemática, a disciplina mental, o desenvolvimento do senso estético através da música e das artes, o estudo da filosofia, da ciência e da história, e tudo mais que pudesse contribuir para a formação do cidadão pleno, deram lugar ao imediatismo de uma observação incompleta e apressada, à passagem de uma impressão à outra, à multiplicidade das imagens, e à ausência de regra e de esforço, impedindo o desenvolvimento do espírito humano. A degenerescência do processo de educar começou no dia em que ficou claro que o sistema político do país é um simulacro de democracia que não decide nada.

A pedagogia, essa nova ciência que se confunde com a psicologia, lembra a ortopedia e usa tratamento de choque como a psiquiatria, orientou, sobretudo, seus esforços para o desenvolvimento afetivo e passional das crianças, descuidando de aspectos importantes como o aprimoramento e desenvolvimento do intelecto e da consciência em todos os seus aspectos; desprezaram as atividades da consciência, tão indispensáveis à formação do ser social. Atividades que seriviriam a dar aptidão para a felicidade, fortificando todas as outras - inclusindo aquelas orgânicas que poderiam dar ao indivíduo a exata dimensão do mundo que o cerca, fazendo com que entendesse o seu fundamental papel na estrutura social - foram sendo negligenciadas.

Enquanto isso, cerca de 1,8 milhão de crianças iniciam o ano sem aulas no Brasil. Centenas de escolas públicas estão fechadas em todo o País porque não têm luz, mesas, professores – e nem a mínima condição de higiene. Esse número equivale a 4,2% do número de alunos matriculados no Brasil, mas a porcentagem, nesse caso, não dá a dimensão exata do problema. O número de alunos que vão começar as aulas com atraso, por conta de alagamentos, greves, um grau insuportável de sujeira e até mesmo desabamento dos prédios é equivalente à população de Manaus, capital do Amazonas, ou de Curitiba, capital do Páraná. É como se cidades inteiras fossem privadas do direito de estudar. 


É fácil ser pessimista com relação à educação no Brasil. As greves dos professores estão aí para demonstrar que otimismo é palavra que se traduz como "esperança, a última que morre". Como se não bastasse ser uma das classes menos privilegiadas, mais maltratadas e mal remuneradas do país, volta e meia apanham da polícia, a mando de governantes que mais se assemelham a ditadores latinos, bastando para tanto implementar sua sandice com torturas em calabouços como faziam durante o regime militar.

Diariamente ouvimos histórias da falta de recursos e do descaso. Os recursos não são poucos! Entretanto, parece que o destino dado a eles, e o descaso do governo, superam sobremaneira o montante.

Os resultados dos estudantes brasileiros em exames internacionais não me deixam mentir; são motivo de vergonha nacional. No mais recente exame PISA (Program for International Student Assessment), o Brasil ficou em 66º lugar entre 77 países, posicionando-se atrás de Trinidad e Tobago, Colômbia, México e Peru.


O QUE EU VI, VIVENCIEI, E A CONCLUSÃO A QUE CHEGUEI

No Brasil, fui professor durante 20 anos, de 1978 a 1998. Durante esse período, dei aulas de Matemática (toda) nos cursos de pré-vestibular, principalmente nas turmas IME e ITA, e de Geometria Descritiva nas faculdades de engenharia e arquitetura. Trabalhei nos mais prestigiosos cursos e colégios do Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e em Cuiabá, onde também lecionei na UFMT por um breve período de tempo.

Tive a sorte de conhecer, de perto, a realidade da educação no Brasil. Vivenciando o dia-a-dia das escolas e universidades brasileiras e, a partir de 1999, na Europa, para onde me mudei no final de 1998 — decisão difícil, mas que fui obrigado por não suportar mais ter que lidar com a violência das ruas (assaltos à mão armada, inclusive envolvendo minha mulher e meu filho caçula) — concluí o quanto estamos atrasados na tarefa de preparar a juventude para a vida e, principalmente, para o mercado de trabalho que, na minha opiniao, deve ser a tarefa principal da escola.

A criança que deveria conviver a maior parte de sua tenra idade com os pais, principalmente com a mãe, é CARREGADA para um convívio forçado com um grupo de estranhos que escrevem feliz com "S", peço com "SS" e falam sobre o "TRÁFEGO" (sic) negreiro. Temos até um ministro da educação (vejam só"), que escreve "paraliZação", "KafTa", "suspenÇão" e "impreCionante".

A criança de hoje, desde cedo, está mais inclinada a considerar como sua família o grupo com o qual convive a maior parte de seu tempo. Tanto é que, quando adolescentes, não conseguem se relacionar com os pais, passando a chamar seus grupos de tribos. Ora !!! Se eu pegar uma criança em tenra idade e colocá-la a maior parte do seu tempo, convivendo com traficantes, delinquentes, estúpidos ou degenerados, as chances dela de se tornar um igual, são muito grandes.

O gozado é que a tal "velha guarda" (os bons médicos, os bons arquitetos, grandes juristas, os intelectuais e os professores que sabiam tudo) foram educados no velho sistema, enquanto o novo vive inventando e a coisa só faz piorar.

Cadê o professor de matemática? Por onde anda professor de física? Onde foi parar o mestre de química? Estão sumindo, dando lugar a uma nova classe de analfabeto funcional que usa o termo educador como quem usa o de "vice de alguma coisa". Aliás, a força do termo reside justamente na sua indeterminação. Afinal, educador de que? Ensina o que?

É fácil ser pessimista com relação à educação no Brasil. Diariamente ouvimos histórias da falta de recursos e do descaso. Para piorar, os resultados dos estudantes brasileiros em exames internacionais são motivo de vergonha nacional. 


PISA 2018

No exame PISA (Program for International Student Assessment) de 2009, a educação brasileira ficou em 53º lugar entre 65 países, atrás de Trinidad e Tobago. Recentemente, em 2018, regredimos para a 66ª posição, atrás do México (57º lugar), da Costa Rica (60º lugar), da Colômbia (62º lugar), nos testes de ciências e o resultado foi ainda pior em matemática. Clique aqui e confira.

Há cerca de 20 anos, iniciamos no Brasil uma despercebida correção de nossas maiores mazelas educacionais, que deveria se acelerar ao longo das décadas. Nos anos 90, começou um processo de inclusão educacional, com a universalização do acesso à educação básica, a elevação da escolaridade média e a expansão do acesso à universidade, mas naad disso resolveu o problema, muito pelo contrário.

O número de universitários no País passou de 1,5 milhão em 1990 para 3,5 milhões em 2000 e para 6,5 milhões em 2010, mas o nível dos profissionais formados é visivelmente inferior ao do passado, quando o ensino era o tradicional. Este avanço no acesso à educação tem deteriorado os indicadores de qualidade do ensino. A população brasileira, segundo dados estatísticos, ficou, hipotéticamente, mais educada, mas o nível médio do estudante universitário, refletido nos exames, piorou muito, à medida que estudantes menos preparados passaram a ingressar nas faculdades. Quando comparamos a nota média dos alunos de 2000 com a média dos estudantes em 2010, desconsideramos que, dez anos antes, três milhões deles nem sequer chegavam à faculdade. Uma fotografia mais fidedigna da evolução da qualidade apareceria se comparássemos apenas as notas dos 3,5 milhões dos melhores alunos de hoje com as dos 3,5 milhões de dez anos antes.

A verdade é que a expansão do acesso à universidade ainda tem de ser avaliado, com cautela e racionalidade, nas próximas décadas. Apesar de todo o avanço, em inclusão, nos últimos 20 anos, ainda hoje apenas um de cada cinco jovens brasileiros chega à universidade, e dos que chegam, poucos se formam; e dos que obtém uma láurea, pouquíssimos podem se dizer bons profissionais.

Precisamos acelerar muito a inclusão e a qualidade de nossa educação. A Coréia, país mais bem colocado no exame PISA (Xangai ficou em primeiro lugar, mas não foi apurada uma média para toda a China), mostra o caminho. Há 30 anos, a renda per capita na Coreia era similar à brasileira; hoje ela é duas vezes maior. Não por acaso, na Coréia, para cada R$ 1,00 que o governo gasta com crianças de até 15 anos, ele gasta R$ 0,80 com aqueles com mais de 65 anos. Como consequência, os coreanos são líderes em qualidade de ensino e mais de 60% dos jovens coreanos chegam à universidade, com um ótimo desempenho. No Brasil, para cada R$ 1,00 de gasto público com crianças, são gastos R$ 10 com idosos. A Coréia escolheu investir no futuro. O Brasil, evidentemente, nem no passado, pois se permenecesse no antigo sistema, provavelmente o nosso sistema educacional não fosse tão ruim.




INSTRUIR E PLASMAR O CARÁTER

A educação divide-se na instrução propriamente dita, voltada para preparar o jovem, desde a tenra idade, para inseri-lo no mercado de trabalho, e também para que compreenda o mundo que o cerca. 
O segundo componente da educação diz respeito a “plasmar o caráter da criança e/ou adolescente”, tarefa exclusiva dos pais, da família, e sem a interferência da escola. 
É um perigo confundir essas duas tarefas, o que justamente tem acontecido no Brasil, onde as escolas se tornaram uma espécie de laboratórios das mais variadas experiências e teorias de “como educar”, intrometendo-se na função de plasmar o caráter, que compete aos pais, não à escola. 
Sob esse aspecto, apesar das suas afirmações polêmicas, estou mais inclinado a dar ouvidos ao prêmio Nobel Alexis Carrel do que a Vigotski, Paulo Freire ou Piaget e a sua “teoria do conhecimento”.


A escola pública, no Japão


O TRADICIONAL ENSINO EUROPEU

Na Europa ainda prevalece o ensino tradicional, o mesmo que passou a ser desprezado no Brasil a partir dos anos 70. Tenho meus senões com relação ao chamado construtivismo. Não acredito que as teorias construtivistas, adotadas na escola brasileira, sejam eficazes para preparar essa juventude para o mercado de trabalho, muito menso para a vida. 

Alèm disso facilitaram muito as promoções, extinguiram o mérito, criaram cotas, teorias do que poderia traumatizar o aluno (correção com caneta vermelha, impossibilidade de se reprovar, trabalhos para melhorar nota, etc). 
Reduziram o ensino da Matemática ao aprendizado das 4 operações; negligenciaram com a História (geral e do Brasil), a Geografia (geral e do Brasil), com as Artes e com a Música. O ensino da Física, hoje se resume ao aprendizado superficial das 3 Leis de Newton (na verdade nem isso e laboratório, nem pensar); a Química foi reduzida ao studo superficial dos estados da matéria e a Biologia, ao que tudo indica, se limitou à explorar a região da cintura, haja vista a tremenda preocupação dada ao sexo, em todos so níveis. Clique aqui e confira.

A verdade é que a escola brasileira de hoje, não ensina absolutamente nada! Um dos mais graves problemas que hoje enfrenta a nossa escola é ter sido, ao longo dos anos, substituída por outra instituição que não tem compromisso com o processo de instruir; pelo menos não com aquele compatível com o que entendemos pela própria definição.

A cartilha do aprendizado, do saber e do conhecimento foi substituída pela informação sem objetivo, apressada e imediata. A pretexto de “preparar o futuro cidadão para a vida” (expressão cuja força reside justamente na sua própria indeterminação), negligenciaram com o saber, abafaram a cultura e promoveram a mediocridade e a estupidez. Implementam ideologias tortas, usando a escola como rampa para políticos ou incrementando o vício, a corrupção, a desagregação da família e a desordem.

Some-se a toda essa tragédia, a oportunidade que criaram para os menos dotados intelectualmente, distribuindo cotas, ao mesmo tempo em que nivelaram por baixo o aprendizado, obscurando o intelecto.


SUCATEAMENTO

Ao reduzir o currículo das matérias nas escolas e nas universidades, o governo demonstra sua malévola intenção, aquela de reduzir a massa societária a um único corpo não pensante, fazendo da ignorância, a sua unidade. Porém, para surpresa - mesmo que se recusem a enxergar - e infelicidade dos próprios “algozes”, são eles também atingidos, já que convivendo com a estupidez generalizada que implementam, tendem a se tornar tão estúpidos como os “súditos” do “feudo” que serve a seus própósitos.


PS: No link (CLIQUE AQUI), a prova de final do curso de segundo grau, das escolas italianas (o equivalente ao nosso ENEM). Se você não é professor de matemática, mostre a um amigo que seja. Na Europa, eles são obrigados a defender TESE, tanto para serem promovidos ao segundo grau, quanto para receberem o diploma de conclusão desse curso que, à diferença do Brasil que dura 3 anos, aqui são cinco anos, Alguns alunos chegam mesmo a ter crises de nervos e devem ser conduzidos ao pronto socorro, tamanho è o stress a que sao submetidos.