Calor infernal, agrotóxicos e pragas, o Brasil de Dante


"...Dinanzi a me non fuor cose create se non etterne, e io etterno duro. Lasciate ogni speranza, voi ch'intrate". Aqui, no canto III da Divina Comédia de Dante, o inferno é o reino da ausência de qualquer esperança de salvação. Dante não entende o significado oculto das palavras e pede uma explicação a Virgílio, que conforta Dante, para que não tenha medo e nem desconfie, porque no caminho apenas verá pessoas lamentando sua severa e merecida punição.

Este é o verdadeiro começo da descida ao inferno. É a noite da Sexta-feira Santa, 8 de abril de 1300.
Os cantos anteriores, dão lugar a uma súbita expansão do conhecimento de Dante, através da visão dos primeiros condenados, no "anti-inferno", onde o tremendo calor e o zunir das pragas já se fazem sentir. Encontram-se a um passo do reino da dor e do sofrimento sem esperança. As inscrições na porta são advertências de que esse local de punição é eterno. "Deixe para trás toda a esperança, você que entra".

Virgílio o pega pela mão, como uma criança, e explica as regras misteriosas daquele mundo povoado de pessoas semi-mortas, em eterna agonia. Um cenário repentino de lágrimas, gritos, suspiros, maldições, blasfêmias, em diferentes idiomas, se espalham pela atmosfera quente. Há um vento impetuoso que levanta nuvens de poeira como a areia se levanta em tespestade desértica, nessa total ausência de tempo. É natural e emocionante que Dante esteja constantemente perguntando a Virgílio o motivo de tanta dor. Ele quer saber quem são essas pessoas "nel duol sì vinta".

Eles são os ignorantes, que viveram sem infâmia e sem elogios, expulsos dos céus por não serem menos bonitos e rejeitados pelos demônios porque sua vida amorfa não aumentaria a glória de seu mal orgulhoso. Talvez, no sentido ético de Dante, eles tenham a pior condenação: o mundo não tem condescendência por eles. Vigilio, com um ligeiro desprezo, exorta o peregrino a não raciocinar sobre seu destino. Todavia, Dante é atraído por esse mundo novo e incrível; ele olha e se depara com a alegoria dos ignorantes: eles nunca tomam uma posição exata, não estão no céu nem na Terra, nem com Deus nem com o diabo. As almas são tão numerosas que o poeta se surpreende com os seus pensamentos horruplilantes. Mas ele reconhece alguém na multidão lotada, na multidão em movimento: é a sombra de um homem famoso que fez a grande recusa, o protagonista decisivo da morte de Jesus nos corações e nas mentes das pessoas.

As penalidades são mais do que atrozes. Picadas de vespas, moscas, sangue derramado das bochechas que se misturam com as lágrimas que são coletadas a seus pés por vermes irritantes e nojentos. E Dante anseia por saber quem são essas pessoas que são punidas dessa maneira. Virgílio o obriga a ter paciência com a resposta: ele a fornecerá na outra margem do Acheronte. E aqui, com uma reviravolta poderosa, o barqueiro do além, aparece com os olhos vermelhos, em brasa.  As almas que vieram da morte são trazidas em seu barco, ao som de remos e lamúrias. As cores são roxo, vermelho escuro, índigo.

Caronte é um demônio e percebe que Dante está vivo. Diz para ele sair do caminho do seu barco que leva ao Purgatório da foz do Tibre. Virgílio silencia Caronte, assegurando-lhe que tudo é desejo dos do céus. Portanto, uma descrição poderosa das almas assustadas - e estranhamente ansiosas para conhecer sua dor - torna essa música uma das mais dramáticas e fascinantes de todo esse canto.

As semelhanças de pessoas com as árvores abatidas, queimadas e sem vida, que vêem todos os seus restos no chão, são as almas que descem do barco sobrecarregado e pesadas por causa dos pecados mortais; condenados que blasfemam, tremem, amaldiçoam o dia, o lugar e a semente "de suas sementes e nascimentos", misturam lirismo com drama. Eles estão agora além do Acheronte.
Virgilio decide revelar a Dante a razão de seu silêncio: "Como os bandidos vêm de todos os países, Caronte não pensa que possa haver uma boa alma nessa "terra" inóspita, sem vida.

É o que diz o guia, mas imediatamente após a terra escurecer e tremer, liberando um vento quente das cavernas infernais, repentinamente um clarão vermelhão cega Dante, fazendo-o desmaiar.

Para quem conhece a Divina Comédia e interpretou todos os seus versos, de todos os cantos, assim como eu fiz, impressionam determinadas passagens que nos reportam ao Brasil dos tempos atuais. Abate da floresta, um calor tremendo, carestia, miséria, fome, ódio, blasfêmia, as erradas e tortas interpertações das escrituras, estupros, pedofilia, zoofilia, coprofagia, degenerescência, degradação moral e, complementando esse quadro dantesco, as pragas e doenças que tem tomado de assalto o país. Junto com um calor insuportável, mosquitos, infestação de baratas, escorpiões, doenças como dengue zika e chikungunya, febre amarela, malária, maleita, doença de Chagas, e agora mais uma, A FEBRE MAYARO, numa terra onde a saúde é tratada com descaso e a defesa civil é inepta e ineficaz.




MOSQUITOS

No Brasil, as queimadas, o abate da floresta, o calor tremendo, tem facilitado a proliferação dessa praga, responsável pela transmissão de malatias graves. Isso se deve, principalmente à devastação promovida pelos sucessivos governos irresponsáveis em suas ações ou omissão, não dando a devida atenção ao problema. Além de facilitarem a proliferação do mal com o abate da floresta, exterminam seus predadores naturais (pássaros como andorinhas, lagartixas, rás, sapos, aranhas, etc), com o derrame irresponsável de agrotóxicos, auxiliados pela população neófita que mata gambás, quatis e outros predadores de mosquitos, baratas e escorpiões.

Exemplo: O que você vê na foto é uma andorinha. Matar andorinhas ou destruir seus ninhos não é só um ato irresponsável. É também uma grande estupidez. Destruir os ninhos de andorinhas, só para reformar ou pintar sua casa é uma ignorância tremenda e vou te explicar porque:

As andorinhas se alimentam de insetos (mosquitos e moscas são seu menu principal). Quando você mata ou destrói ninhos de andorinhas, reduz a população delas, consequentemente interferindo num equilíbrio natural, aumentando a população de moscas e mosquitos. E nem adianta inseticida porque com o tempo, o efeito é inverso, funcionando como uma espécie de afrodisíaco do inferno das pragas aumentando ainda mais a população de moscas e mosquitos. A tal fumacinha, depois de usada durante muito tempo, não adianta absolutamente nada. Os insetos criam resistência ao veneno.


Outra coisa que as pessoas precisam saber é que andorinhas são aves migratórias e tem pouco tempo para fazer ninhos. Elas os reaproveitam por toda sua vida, sempre usando o mesmo ninho.

Na China, o comunista Mao Tse-Tung mandou exterminar todas as andorinhas por considerá-las inimigas do povo, porque comiam umas poucas sementes de arroz. O massacre foi tão horrendo que a andorinha praticamente desapareceu daquele país, o que fez a população de moscas e mosquitos aumentar notavelmente. Passaram a jogar inseticidas na lavoura e nas cidades, o que piorou ainda mais a situação, por afetar outras espécies de predadores naturais e quase dizimar as abelhas.
Foi aí que resolveram dar aos chineses os tais mata-moscas para tentar controlar a população de insetos o que de pouco ou nada adiantou...mesmo porque você não pode passar o resto da vida com um mata-moscas nas mãos. É mais fácil ter quem faça o serviço por você (a andorinha). A coisa piorou ainda mais quando uma epidemia de malária dizimiou grande parte da população chinesa.
E por que ? Por causa dos mosquitos que devido à falta do seu predador natural (a andorinha), procriaram desmesuradamente e se espalharam por todo país, fazendo a doença se alastrar. Até que um chinês inteligente (acredite, existem seres humanos que não são estúpios) disse que o problema dos insetos era devido à falta de andorinhas e pardais. Trouxeram as aves de volta que hoje são protegidas por lei...matar uma andorinha na China pode resultar em condenação à pena de morte.



Então, por favor, parem de matar andorinhas e pardais, abater a floresta, e promover queimadas. Do contrário, vocês se arriscam a viver o cenário descrito por Dante, no volume dedicado ao inferno, em sua obra maior. Caso uma faça um ninho no seu telhado, diga para sua mulher que é muito mais simples limpar um cocozinho de passarinho no quintal do que parar num hospital com dengue hemorrágica.

Sendo assim, façam de tudo para aumentar a população de andorinhas...protejam essas aves maravilhosas e com o tempo elas irão te retribuir com o fim da denque e de outras pragas.

Autor: Prof. Fernando Antunes